Série Oscar 2016: O Quarto de Jack


Eu preciso ler mais livros. Sim, essa é a frase que dito para mim pelo menos há uns dois anos. Não sei, mas conforme as coisas foram evoluindo (leia-se faculdade, trabalho, etc...) meu hábito de ler diminuiu absurdamente. Não a toa tenho pilhas de livros que comprei ao longo do tempo e sequer li sua contracapa. Enfim, compartilhei essa pequena reflexão para chegar neste ponto: Eu me sinto um pouco mais culpado a cada filme-adaptação que eu assisto e gosto. E isso aconteceu de novo.

Vamos combinar que é muito difícil um filme superar sua obra original, certo? Pois bem, partindo dessa premissa, se eu adorei o filme, com certeza eu teria amado o livro.

Chorado o leite derramado, eis que a adaptação da vez é "O Quarto de Jack", baseado no livro "Quarto", de Emma Donoghe, que conta a história de uma mãe e um filho, que vivem juntos em um quarto. Enquanto Jack, de cinco anos acredita veemente que aquilo ali é seu mundo, sua mãe sofre por estar ali há sete anos contra sua vontade.

Antes de escrever esta resenha, eu pesquisei muito sobre o livro e vi que a trama se desenrola apenas sob o olhar de Jack, onde ele é o narrador até o fim.  Isso só me fez acreditar ainda mais na força do filme. O desafio de transmitir esse olhar a um filme é extremamente difícil, mas acreditem, o diretor Lenny Abrahamson (Frank) conseguiu fazer isso com maestria.

A primeira parte do filme é arrebatadora. O quarto é explorado com muita sutileza nos seus mínimos detalhes e nos faz acreditar um pouco no que o pequeno Jack pensa: Aquilo ali é seu mundo, é enorme, é real. "Monstros são muito grandes, por isso não podem ser reais, assim como o mar", pensa ele em um de seus ótimos momentos de reflexão e visão sobre seu mundo, que acontecem esporadicamente. Uma sacada genial do diretor.

Ao mesmo tempo em que o público observa como um terceiro, ele também faz parte não só da cabeça de Jack, como também de sua mãe. A introspecção dos dois personagens e a construção disso é incrível. Isso envolve, também, a forma com que o diretor trata as mudanças drásticas da trama. De um lado, um local pequeno, aconchegante e seguro, mas solitário. Do outro, o mundo lá fora, enorme e libertador, mas ao mesmo tempo agoniante, gerados pelo trauma e a readaptação.

Agoniante também é a sequência em que a história vira. Simplesmente não dá para respirar perante os acontecimentos. E quando se acha que vai ficar tudo bem, a trama sufoca cada vez mais. O filme faz com que o espectador mergulhe cada vez mais no enredo, que ora proporciona o riso com a forma de ver o mundo do garoto, ora o choro de suas dificuldade, e até os dois juntos. E é nesse mix que o longa vai até seu final.

Além da ótima direção, há também dois pilares que seguram as quase duas horas de duração. O primeiro é a atriz Brie Larson, que honra seu globo de ouro numa atuação intensa e sincera. Há muito mais que a responsabilidade de ter tido um filho em cativeiro envolvido, e suas ações explicitam isso.

O outro, como vocês já devem saber, é a grande injustiça do ano no Oscar, Jacob Tremblay. O canadense de nove anos é quem move "O Quarto de Jack". Seu timing de atuação é impecável, que mistura a inocência e a vulnerabilidade com a força e a coragem com que ele encara as dificuldades. Nesse ponto, ele lembra muito Hushpuppy, personagem de Quvenzhané Wallis em Indomável Sonhadora. Se quando eu disse que há um mix de emoções a todo tempo, pode se dizer que uma enorme parte disso é culpa de Tremblay. DiCpario teve sorte do garoto não estar entre os indicados.

Delicado e poético ao mesmo tempo em que é pesado e claustrofóbico, "O Quarto de Jack" nos faz pensar em como encaramos as dificuldades da maneira de Joy, enquanto, na verdade, poderíamos tentar fazer como Jack, que de maneira inocente, encara as situações com maturidade.


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